Jockey Club
Rio de Janeiro - 1990
Este emblemático show realizado no dia 7 de julho de 1990 no Jockey Club (RJ) ficou marcado no coração de mais de 60 mil pessoas e até hoje é recordado por milhares de fãs. Na verdade foi uma grande homenagem a Cazuza, que tinha falecido naquele dia. Foi exibido pela TV Manchete.

Era dia de luto para o rock nacional. Ainda assim Renato Russo, com flores na mão e seu visual de bigode e colete, preparou um discurso e iniciou o show – que iria durar duas horas.

“Eu vou falar de mim. Eu tenho mais ou menos 30 anos. Eu sou do signo de Áries. Eu nasci no Rio de Janeiro. Eu gosto da Billie Holiday e dos Rolling Stones. Eu gosto de beber pra caramba de vez em quando. Também gosto de milk-shake. Eu gosto de meninas, mas eu também gosto de meninos. Todo mundo diz que eu sou meio louco. Eu sou um cantor numa banda de rock n’ roll. Eu sou letrista e algumas pessoas dizem que eu sou poeta. Agora eu vou falar de um carinha. Ele tem 30 anos. Ele é do signo de Áries. Ele nasceu no Rio de Janeiro. Ele gosta da Billie Holiday e dos Rolling Stones. Ele é meio louco. Ele gosta de beber pra caramba. [pausa] Ele é cantor numa banda de rock. Ele é letrista. E eu digo, ele é poeta. Todo mundo da Legião gostaria de dedicar este show ao Cazuza”.

Após Há Tempos, Renato fala: “Hoje em dia é mais fácil entrar para as forças armadas do que ter um ensino decente. E esta música é sobre isto", iniciando O Reggae, já sem colete e tocando uma pandeirola. Faz ironia sobre o Presidente Collor, similar à que fez no show do Gigantinho, e mostra um medley com Mais do Mesmo, inserindo o trecho improvisado “O meu país tem nome de remédio/Plasil/Doril/Só que o Brasil só tem me dado dor de cabeça/E não é a gente/Inflação zero só se for na casa deles”, e voltando à segunda parte da música.

No setlist ainda existem diversas intervenções e improvisações de Renato Russo -- falando com a plateia como se estivesse no sofá da sala, o que causava a impressão de cumplicidade e proximidade. Ao cantar Meninos e Meninas, troca São Francisco Por Rio de Janeiro. Em seguida, canta Pais e Filhos, Feedback Song For a Dying Friend, Quando o Sol Bater Na Janela do Teu Quarto e Eu Era Um Lobisomem Juvenil. E anuncia Sete Cidades, que surge em um arranjo mais dinâmico que no álbum de estúdio. O show segue com Renato dizendo que a próxima música é sobre tortura. “Eu espero que nunca mais aconteça em nenhum lugar do mundo, seja ela física, mental ou emocional” e canta “1965 (Duas Tribos)”.

Continua conversando com a plateia e diz: “Tem uma onda de sequestros por ai. Sequestraram minha vontade de viver a muito tempo. Esse é o resgate que a gente paga. Mas tá valendo a pena, vocês são joia. Obrigado”, e canta Monte Castelo com Marcelo Bonfá na frente do palco, o acompanhando com o pandeiro. Emenda em Maurício e cita She Loves You (The Beatles), depois canta Geração Coca-Cola, Ainda é Cedo– sempre com medleys de músicas que lembravam a sua infância. “Tinha uma época que eu não podia ouvir Janis Joplin que me fazia mal”, disse, encerrando a interpretação.

O show seguiu com Eu Sei, Angra dos Reis, Tempo Perdido e Soldados. Aos gritos de “É Legião/É Legião, olê, olê, olê”, a banda toca Andrea Doria, Quase Sem Querer, Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar e Será, mudando trechos da letra. “Jogar areia pra quê/Se é sem querer/Quem é que vai/Nos proteger/Será que vamos ter que responder/Pelos babacas a mais/Nós e vocês”, mandando indiretas para pessoas da plateia que jogavam areia em umas meninas. E pede para o iluminador, acender as luzes. “Se não tirar todo esse pessoal daqui esse show não vai ter o bis. A gente pode se divertir numa boa, mas vocês tem que se respeitar também”, diz ele, entre outras palavras, antes de começar Faroeste Caboclo com um trecho de “I Can’t Get No (Satisfaction), dos Stones. A última música acabou sendo Índios.