Gigantinho
Porto Alegre - 1990
Era um sábado chuvoso na capital gaúcha e já na entrada era possível perceber
a importância do evento. Antes da abertura dos portões, por voltas das 17h, três
enormes filas se formaram e, enquanto aguardavam, muitos tocavam hinos da Legião
com violões e vozes em coro. A formação reunia Dado Villa-Lobos (guitarra),
Marcelo Bonfá (bateria e percussão), Fred Nascimento (violões) Mu Carvalho
(teclados) e Bruno Araujo (baixo). Realizada em 1990 no ginásio do Gigantinho,
muitos fãs relatam que esta foi uma das performances mais brilhantes da Legião
Urbana.
Lá dentro, a banda subiu ao palco antes de Renato. Com uma camisa social de seda
e estampada, Renato usava bigode e uma camiseta por baixo. Entra, dá boa noite a
Porto Alegre e pergunta: “Vocês estão prontos?”. O show começa com Há Tempos,
já nas gargantas presentes na plateia e com um pouco de microfonia. Segue com
Daniel na Cova dos Leões e, no final, se joga no chão do palco, para delírio da
galera. Volta e ataca com O Reggae, onde improvisa uma letra ironizando o então
Presidente Collor: “A minha prima diz/que o Presidente é bonitão/A minha prima
diz/que o Presidente é um tesão/O meu primo quer/Andar de Kawasaki, ê/O meu
primo quer/Andar de submarino nuclear/O meu primo quer/Pular de pára-quedas/O
meu primo quer andar de Jet Ski/E eu só quero o meu dinheiro de volta” e emenda a
frase “Inflação zero só se for na casa deles!”, acompanhado pela plateia. E começa a
cantar a letra da música, fazendo diversas intervenções e citações, como “Diga não
às drogas” e “Diga não à religião”. Começa um papo com a plateia e vem a segunda
parte da letra, citando, no final, o refrão da música Plantas Embaixo do Aquário.
Explica que fez para o seu ex-namorado a música Meninos e Meninas e declara: “Eu
amo quem eu quiser!” antes de iniciar. Toca pandeirola e troca de propósito parte
da letra no refrão, citando Porto Alegre no lugar de São Francisco. A plateia vai ao
delírio!
Antes de iniciar Pais e Filhos, Renato diz que “às vezes parece que tudo fica tão
difícil que a vontade que a gente tem é de sumir”. E o público canta junto, em alto e
bom som. E a banda emenda em Feedback Song For A Dying Friend e Quando o Sol
Bater na Janela do Teu Quarto. E pergunta: “Quem é lobisomem aqui?”, para cantar
Eu Era Um Lobisomem Juvenil, com destaque para o solo de Dado e a performance
de palco de Renato. Na sequência ele anuncia uma música sobre tortura e canta 1965
(Duas Tribos), contando com a banda no backing vocal. E logo após começa Monte
Castelo,
e diz: “Essa camisa que eu to usando é um triângulo cor de rosa. Gente como eu tinha
que usar isso em campo de concentração, só pra vocês saberem. Do jeito que as coisas
estão indo logo, logo vocês terão que usar triangulozinho também. Portanto cuidado,
crianças! Eu to falando sério”, para emendar a música Maurício – citando She Loves
You (The Beatles).
Antes de começar a próxima canção, Renato explica: “agora eu vou cantar uma
música para minha ex-namorada. Eu gosto de aproveitar o melhor dos dois mundos.
São mais de dois mundos. Mas aqui tem menor de idade, então a gente vai ficar por
estes dois mesmo! É claro. Dia e noite, claro e escuro, quente e frio. Não é assim que
eles ensinam pra gente? Mas não é assim, não, o sistema binário é da Era passada.
Agora a gente está entrando no sistema de múltipla escolha! Tem quente, tem morno,
tem escaldante, tem gelado”. E começa a cantar Like a Prayer (Madonna) em medley
com Ainda é Cedo, citando também When Doves Cry e Purple Rain (Prince), além
de Love Will Tear Us Apart (Joy Division). Ajoelha, voltando em seguida para a
segunda parte da sua canção.
O show continua com Eu Sei e a participação intensa da plateia. E fala com os fãs: "O
nome indígena do lugar onde eles construíram a nossa usina nuclear é ‘terra fofa’. Os
índios já sabiam que qualquer coisa que você coloque lá vai afundar! Batendo palma
nada, gente, isso tem que vaiar! Abaixo os militares, em qualquer lugar! Vamos
afastar eles, pra bem longe! Eles ainda estão por ai, entendeu? Ùuuuuuu. Coisa ruim
não morre. É horrível! Vocês viram a Petrobrás? Mas vocês não viram mesmo, eu
sei como é que é! Então façam alguma coisa! Por enquanto a gente pode cantar!”
e começa Angra dos Reis. Na segunda parte da música, senta na beira do palco.
Levanta, e termina a música; até que começa Tempo Perdido em um arranjo mais soft,
com violões.
Em Soldados Renato começa seu medley com The End (The Doors) e Blues
da Piedade e Faz Parte do Meu Show (Cazuza) e encerra com Nascente (Flavio
Venturini), encerrando a performance aos urros. A Legião alivia com Quase Sem
Querer encerra vendo alguém da plateia cuspir no segurança. Renato diz: “Cuspir
nos outros eu acho a pior coisa, entendeu? Ainda mais cuspir na galera que está
trabalhando aqui porque eles estão trabalhando legal! Vamos tratar a galera com
respeito, porra! Eu acho isso! Eu cuspo em cima de vocês? Eu hein? Porra, sabe...”.
E emenda: “Ok. A última”. E a Legião toca Será, com a galera cantando junto!
Despede-se, agradece. Todos gritam “Mais um, mais um” e “porque parou, parou
por quê?” e a Legião Urbana volta para o bis. Renato pede uma salva de palmas para
a equipe e diz “chega de agressão!”. Fala que vai tocar duas músicas daquelas que
nunca toca, e rolam as músicas Andrea Doria – citando Yesterday (The Beatles) – e,
mesmo dizendo que não lembrava direito da letra, iria tocar para os fãs Índios. Mas
Renato interrompeu a execução, quando viu algum início de confusão perto do palco.
Recomeça, canta e encerra a festa de todos.